UM DIA BASTANTE COMPLICADO EM ASSUNÇÃO/PY.
Após um rápido voo de 2 horas, estava eu em Assunção no Paraguai, fui
recebido pelo integrante Internacional do Motoclube BR-116 o Sr. Pablo que com
seu automóvel me levou até a Jauser Cargo, empresa responsável por receber
nossas motos, realizar os tramites aduaneiros e nos botar na estrada novamente.
Em um calor infernal que fazia em Assunção chegamos rapidamente a
empresa Jauser. Chegando lá fui recebido pela Sra Adriana, após pagar a taxa de
U$ 400,00 recebi os documentos da moto
e fui informado que poderia retirar as motos no Porto de
Assunção, então para lá partirmos.
Um transito caótico cheguei ao Porto aonde o Carvalho e o Rogério
estavam em negociação para liberação das motos. Estranho, pensei ... "realizei o pagamento das taxas o que
está errado?". Começava neste momento um dos momentos mais tensos de toda
a Expedição.
Taxas e mais taxas eram inventadas e cobradas, um verdadeiro absurdo
acontecia diante de nossos olhos, sem o menor constrangimento por parte das
pessoas que trabalhavam no Porto e queriam nos "morder" de qualquer
forma ou maneira.
Eu não me recordo de tudo, mas foram cobrado taxas individuais como...
- O guincho que tirou o contêiner do navio e colocou no chão,
- Taxas de abertura do contêiner,
- A empilhadeira que pegou as motos na cabeceira do porto e levou até o Estacionamento,
- Taxas extras aduaneiras,
- Taxas de Despachante aduaneiro,
- Taxa de hora do estacionamento que as caixas com as motos ficaram paradas,
- Sellos (carimbos) de saída do Porto e mais.... e mais taxas que eu nem recordo.
Teve um momento que demos um basta, resolvemos ir atrás da corregedoria
do porto, um senhor veio para tentar ajudar, após aguardar por ele por 1 hora,
ele saiu decepcionado e disse que era melhor pagarmos porque poderia ficar
pior!! Tem noção o corregedor desistiu de lidar com aquela "máfia" e
disse paga que vai ficar pior...
Literalmente "se arrombamos"
Eu nem sei descrever o quanto eu paguei, o que paguei e porque paguei,
mas sei que deixei mais U$ 400,00 para sair de lá com a moto.
Quando finalmente conseguimos subir na moto e liga-las, que pronto e imediato
após mais 2 meses paradas, pegaram de primeira, lembramos que seus tanques de
combustíveis estavam vazios, exigência para transportar a moto no navio.
Motos ligadas e esquentado, colocamos nossas roupas da Riffel que
trouxemos no avião, subimos nas magrelas e "bora" torcer o cabo para
casa. Ao passar pela portaria, ainda tentaram morder mais desta vez não
conseguiram.
Para sair de Assunção tínhamos que rodar na direção de Cidade do Leste e
depois finalmente cruzar a Aduana para Foz do Iguaçu.
Por determinação de sei lá quem no Porto de Assunção, fomos obrigados a
ser acompanhados por um funcionário da Aduana Paraguaia até a fronteira com o
Brasil, e tínhamos que sair em menos de 24 horas do país. Pessoal pensa como eu
estava me sentindo, deixei U$ 1.000,00 para um bando de safados e ainda estava
sendo escoltado por um funcionário para ter certeza que nós íamos sair do
Paraguai e não nos instalarmos no país. É mole, tem que rir para não chorar.
Nós 3 estávamos "duros", levaram toda nossa grana aqueles corruptos
no porto, literalmente sem nenhuma "plata", kkkkkkk. Sorte de ter
Cartão de Crédito, salve santo Cartãozinho.... Paramos em um posto de
combustível, enchemos o tanque das Ténéres até sangrar, devido a alta autonomia
que a Ténéré tem sabíamos que não mais seria necessário abastecer no Paraguai,
tínhamos gasolina de sobra para sair daquele país.
Eram aproximadamente 10 horas da noite pilotamos a noite inteira em
direção de Foz do iguaçu, teve um momento que o sono veio forte e fizemos uma
parada de segurança em um posto de gasolina aonde descansamos no chão mesmo,
tiramos um breve cochilo e reativamos nossas forças. Sempre acompanhados do
funcionário da Aduana, fomos parados pela polícia rodoviária do Paraguai por 2
vezes, que tentaram de novo arrancar mais grana, pediram tudo que é documento
que vocês podem imaginar, até carteira de vacinação internacional, escapamos
ilesos destes "covardes da estrada".
Após uma tensa pilotagem noite a dentro chegamos finalmente em Cidade do
Leste, paramos na Aduana Paraguai e fizemos nossa saída do país realizando o
carimbo em nossos passaportes. Para realizar a saída da moto, a aduana, ficou
por conta do funcionário da Aduana que nos acompanhou toda a viagem no carro do
integrante do Motoclube Pablo, ele veio portando os documentos das nossas motos
o tempo todo.
Ele foi em direção das salas da alfandega com nossos documentos e
ficamos aguardando o seu retorno após uns 30 minutos ele retornou. Disse que
tínhamos que colocar a moto em um estacionamento e aguardar o chefe de polícia
que iria colocar "sellos" em toda documentação, em nosso português
carimbar a papelada.
Achei estranho a colocação do agente e comecei a fazer varias perguntas.
Como fomos extorquidos em Assunção estávamos mais atentos. Ele deixou nossos
documentos com o guarda, como chegamos na aduana na madrugada do Sábado, ele
queria prender nossas motos o final de semana inteiro e somente soltar no
domingo, com isso mais doletas iriam voar para aqueles safados, haviam
preparados mais uma arapuca para nós.
O Agente percebeu que a "chapa" estava esquentando, então ele
começou a solicitar por "reforços" de mais agentes, em uma rápida
manobra dissemos a ele que tudo bem, iríamos colocar a moto no estacionamento
conforme solicitado, subimos nas motos e começamos a andar devagarinho, quando
nos sentimos seguros aceleramos e cruzamos a ponte da Amizade como flechas e
somente paramos no Brasil.
Em outras palavras, demos um perdido no Agente e aceleramos para nosso
país. Chupa seu picareta!!!
Paramos em uma padaria em Foz do Iguaçu para tomar um café e tomar algumas
decisões. Decidimos que não voltaríamos e que "foda-se" nossos
documentos, chegando em São Paulo tiramos segunda via e pronto.
O Rogério e o Carvalho vieram na frente em direção da cidade de São
Paulo. Eu fiquei mais um dia em Foz do Iguaçu, deixei a moto na casa do nosso
Integrante Líder de facção de Foz do Iguaçu o Roberto e fiquei passeando pela
cidade com ele durante todo o sábado. No domingo após o almoço com o Roberto e
sua família peguei estrada em direção da minha casa.
Passei pelo estado do Paraná e cheguei á divisa de Estado com São Paulo,
estava agora pilotando na Rodovia Castelo Branco em direção a minha casa,
anoiteceu, uma lua cheia maravilhosa de cor dourada clareava a estrada a minha
frente, por diversas vezes eu apagava o farol e era guiado somente pela sua luz
e brilho.
No GPS, em contagem regressiva faltando menos de 300 km ultima parada para abastecer minha guerreira. Tomei um café e comi um salgado, pronto estava novamente sobre o banco da motoca e rumava para o fim da EXPEDIÇÃO AMÉRICAS, no GPS apenas 200 km para casa, depois menos de 100 km, a cada momento que olhava a tela do meu GPS e a medida que aproximava-me de casa, e os km iam diminuindo e a distância encurtando a saudade chegava cada vez mais forte...
No GPS, em contagem regressiva faltando menos de 300 km ultima parada para abastecer minha guerreira. Tomei um café e comi um salgado, pronto estava novamente sobre o banco da motoca e rumava para o fim da EXPEDIÇÃO AMÉRICAS, no GPS apenas 200 km para casa, depois menos de 100 km, a cada momento que olhava a tela do meu GPS e a medida que aproximava-me de casa, e os km iam diminuindo e a distância encurtando a saudade chegava cada vez mais forte...
Ai a Saudade!!! A saudade...... o que é isso????
Muito engraçado, estava cada vez mais próximo bem pertinho, a cada
minuto mais perto de casa e a saudade piorava.
Estou chegando... A saudade me castigava!!!!
Sem perceber fui aumentando o ritmo e a velocidade da minha motoca,
mantive o ritmo da Expedição Américas entre 100 e 110 km/hora, aproximadamente
7.000 giros, com essa velocidade eu mantinha giro baixo do motor, diminuía todo
o conjunto de desgaste da moto, como motor, freios, pneus, super aquecimento,
relação e diversos etc.. etc... etc.... E o mais importante, me sentia seguro
para uma frenagem brusca na situação de uma necessidade ou acidente.
Quando olhei para o meu painel me assustei, ele marcava 130 km/hora,
rapidamente tirei a mão e voltei para a minha velocidade de cruzeiro.
Finalmente Marginal do Tietê, apenas 20 km....
Ai saudade que me mata .......
Rodovia Dutra BR-116 .... praticamente o quintal da minha casa, menos de
10 km!
Era Madrugada cerca de 4 horas da manhã, logo ia amanhecer. Parei a
motoca em uma rua próximo a minha casa, tirei a máquina do bolso da minha
jaqueta, focalizei no visor e tirei a ultima foto da lua e a ultima foto do meu
GPS indicando "Para Casa" a 400mts.
Queria muito tirar uma última foto do meu parceiro “sombra” que no
asfalto me acompanhou por 27.500 km, que me ouviu cantar, sorrir, gritar,
esbravejar, chorar e etc.... Como era madrugada e escuro não foi possível sacar
a foto, porém não poderia deixar de mencionar esse momento que me acompanhou durante
toda a Expedição Américas, estando agora devidamente registrado nestas linhas!!
Quando cheguei na rua de casa percebi ao longe que a luz da garagem
estava acesa como se aguardassem por alguém, o silêncio reinava na escuridão.
Desliguei o motor e deixei minha motoca rumar somente no embalo até seus
merecidos aposentos.
Encontrei minha família, minha mulher e meus filhos amontoados, dormindo
no sofá da sala, totalmente espremidos e com um grosso cobertor aguardando a
minha chegada.
Fiquei olhando para eles por algum tempo antes de acordá-los com um
beijo e emocionado, agradeci a Deus pela linda família que eu tenho e por
entenderem a necessidade que tenho em “viver” de vez em quando...
Retornei a garagem olhei admirado da porta para minha Motoca, a minha
guerreira, a minha Ténéré, ainda quente, com o seu motor estalando, repousando
depois desta incrível jornada de 50 dias, resolvi me aproximar e dei uns leves
tapas no seu tanque e disse a ela bem pertinho tocando com uma das minhas mãos ...
Obrigado!!!
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